Artigos

O Mercado das Idéias, por Ozires Silva

Crédito: Divulgação

Uma surpreendente descoberta! Se olharmos um pouco mais profundamente sobre nossa sociedade, chegamos à constatação de quão pouca é a curiosidade  intelectual que nos afeta. Quase nada emerge da dinâmica, por exemplo, do crescimento, do progresso e das vitórias e sobre quais seriam os comportamentos que nos levam a elas.

 

Apesar do peso global crescente de um mundo em evolução, os fatos, inovações e as mudanças chegam-nos de outros lugares, particularmente do Hemisfério Norte. Parece que nossa América do Sul não conta ou não é levada em conta!

 

A escassez de pensamentos para o futuro se revela de centros de estudos, os quais, se existentes entre nós, produzem trabalhos prosaicos, que na maioria das vezes não conseguem responder perguntas difíceis. Muitos simplesmente reproduzem propaganda oficial e poucos olham muito além do seu próprio quintal.

 

 

Precisamos pensar o quanto é importante criar mercados para ideias, sobretudo para as novas. Por mais estonteante que sejam os efeitos do crescimento da China, país que impressiona com ousados feitos de execução, não elaboramos sobre as causas e as ações sensacionalmente originais que o país asiático lança com uma frequência acima do normal, no mundo atual das mesmices. Quando os “valores asiáticos” foram apregoados pela região, há cerca de umas duas décadas, como um tipo de filosofia especial, eles foram vistos por nós, como apenas tentativas, duvidando sempre, como é comum por aqui. Funcionaram? Sim, mas vão se sustentar? Não sabemos, pois o futuro, pelo menos para nós, não está sendo delineado por mercados de ideias.

 

Sabemos que idéias originais são estimuladas por controvérsia intelectual e dissenso racional. Não é acidente que elas tendam a fluir livremente em países como os Estados Unidos e outros que venceram, que não somente as toleram como também as estimulam, como socialmente benéficas.
Entre nós, muitas das ideias surgiram no passado e que, bem sucedidas a partir de persistências e de lutas – trouxeram benefícios tangíveis -, poucas são aplaudidas, superadas que foram pela nossa tendência de comentar e divulgar más notícias. De qualquer forma, parece que nos falta o cultivo de uma cultura do sucesso, de acreditar que coisas boas podem acontecer e provocadas.

 

Precisamos não abandonar as crenças de passados que muito nos beneficiam hoje, pois podemos constatar, com alguma preocupação, que estamos nos habituando a lidar com o mundo tal qual ele é, e pouco se tentando influenciá-lo para mudanças. O faro das empresas e das pessoas, de transformar obstáculos em oportunidades, chaves para o sucesso, precisam nos sacudir. A disposição de contemporizar com o poder político parece degenerar em camaradagens e em confortáveis conspirações contra o interesse público, das quais sobram exemplos.

 

Um mercado de ideias mais ativo é importante se quisermos reagir aos enormes desafios que estão aí e podem gerar amplas metas de desenvolvimento para o futuro. Cada vez mais, esses desafios devem se estender, em áreas tão distintas como educação, cultura, inovação, produção, meio ambiente e outras.

 

Todos os mercados, hoje globais e mundiais, precisam de compradores, assim como de vendedores. Até que os elaboradores de políticas sejam atingidos pela veia da criatividade, da iniciativa e da vontade de implementar o “novo”, dependemos de vozes críticas que advogam mudanças. Sejamos uma delas, pois o progresso poderá vir da proporção em que elas possam ser ouvidas.

 

Artigo divulgado pelo Jornal A Tribuna em 19 de agosto de 2012.