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Sacolinha e fraude, por Samir Keedi

Estamos diante de mais um sério problema neste país. Não só nosso, claro, sendo importado do exterior, mas, conforme o normal, sempre subvertido aqui. O da execrada sacolinha plástica de supermercado em São Paulo. A seriedade não é quanto à sacolinha, mas ao flagrante e contínuo desrespeito ao brasileiro. E mais ainda, à sua inteligência. Parece que este país foi criado apenas para que aqui se pratiquem as maiores barbaridades contra o seu povo. O país é um cluster. Parece que tudo que está errado no mundo, está mais aqui, de alguma forma.

A sacolinha plástica virou o vilão da má qualidade de vida do planeta. Como se fosse apenas ela. E que com sua eliminação o planeta está a salvo. “Santa Cretinice da Mentira Oculta”, da “Igreja da Vantagem” rogai por nós pobres brasileiros. Contra a garrafa de tereftalato de polietileno (PET) não se fala ou faz absolutamente nada. Ninguém esbraveja. Talvez porque o povo seja a parte fraca, e as grandes companhias de refrigerantes e os governos das várias esferas a parte forte. É apenas conjectura, não estamos pensando nada (sic). E, pior que isso, o desrespeito à nossa inteligência. Todos sabem que a sacolinha plástica tem uma utilidade posterior.

Vira saco de lixo e vai para o aterro sanitário. A eliminação da sacolinha tem, certamente, quatro desfechos certos, incontestáveis:

 

1) a drástica redução instantânea de custos dos supermercados. Aumentando ainda mais seus fabulosos lucros. Que, certamente, a economia não será direcionada aos preços. Afinal, somos todos brasileiros, moramos aqui e sabemos a índole do país e dos empresários;

2) Além de não darem, agora há a venda das sacolinhas, aumentando ainda mais seus lucros. E, claro, dos fabricantes das sacolas que agora terão preço. A menos que o Procon resolva isso;
3) A sacolinha, como se sabe, vai comportar o lixo caseiro de cada um de nós. Com a sua eliminação, o consumidor passará a comprar sacos de lixo para colocar seus resíduos caseiros. Com isso, gastando mais. Certamente, bem mais do que a economia dos supermercados, pois os sacos de lixos custam muito mais. E fazendo jus ao Brasil, eles já aumentaram de preço com a procura. É bem Brasil mesmo. Como já dissemos, um país único;

4) Os sacos de lixo irão para o aterro sanitário, exatamente como as sacolinhas. E com o mesmo estrago, ou maior, considerando a sua espessura. E, claro, valorizando mais o aterro, já que custam mais (sic). E, como dissemos, as garrafas PET continuam ai, pelo menos até ontem (sic), reinando de forma absoluta. E também as demais mercadorias vendidas a nós diariamente, que estão em plásticos.

 

Por exemplo, os salgadinhos em geral, estão embalados em plástico. Se não nos enganamos, os detergentes também têm embalagens plásticas e muitos outros produtos de limpeza. O papel higiênico vem embalado em plástico. O nosso jornal é entregue em casa em um saco plástico, embora a assinatura de jornal não seja a maioria. Mas usa plástico. Serve para o jornal não se espalhar, não molhar na chuva – embora molhe com o “cuidado” que certos entregadores têm.

Há uma infinidade de mercadorias cuja embalagem é plástica, e não vimos ninguém vociferar contra elas. Talvez porque essas embalagens façam parte do preço de compra e venda, ou seja, não estão sendo dadas. Os refrigerantes da mesma forma. Os supermercados compram e revendem, com a embalagem no preço. Ou seja, agora, toda embalagem tem preço. E, nada se houve falar sobre a eliminação do petróleo como combustível. Ao contrário, no país virou o “must”. Afinal, agora temos uma das maiores reservas do mundo. E seremos exportadores da matéria-prima. Claro, para que os outros também ajudem “na luta contra o planeta”.

Antes que alguém se esqueça, a sacolinha nunca foi dada. Estava no preço. Só que, para não admitirem isso, as mercadorias não baixarão de preço, assim, justificando o injustificável. Está claro a todos, e já temos lido bastante a respeito, que a questão não é ecológica. É puramente financeira. Não se está pensando no meio ambiente, no futuro do planeta, como já mostramos. Todos estão pensando em seus próprios bolsos. Que é tudo que se faz no nosso Brasil. Tudo é sempre contra o povo.

Inclusive, claro, e certamente, esta volúpia sobre a destruição do planeta talvez não passe de terrorismo. Temos visto muita bobagem ser dita sobre isso. Também sobre a falta de água no planeta. Outra baboseira. Seja lá o que for que ocorra, de que modo a água seja usada, ela sempre estará no planeta. Suja ou limpa. Ela não se evadirá para a Lua, Marte, etc. A água que usamos hoje, é a mesma que os dinossauros usaram há 200 milhões de anos. Como dizia Lavoisier, “nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. É fato. E, usamos apenas um por cento da água doce do planeta. E nem falamos da salgada que pode ser tratada. Jamais vai faltar.

O que pode acontecer é encarecer, pois vai custar mais para chegar ao consumidor em condições. Portanto, vamos todos parar de nos preocuparmos com bobagens, e encararmos os verdadeiros problemas. Ou, desafios. Fazendo com que as coisas sejam normais, como devem ser. Fazendo do Brasil um país melhor, já que tem todas as condições físicas para isso. E não apenas um grande acampamento.

 

Basta de terrorismo, achincalhe, vantagem sobre todos nós por mero interesse econômico. Sempre nos julgando como os palhaços de plantão. Que é, em realidade, como nos comportamos, voluntariamente. E, entendemos que a maior prova disso, é que é tudo voluntário (sic). Não há lei contra a sacolinha. Viva! Os empresários. Você não precisa ser um Leonardo da Vinci, mas pode ser um você muito melhor.

Artigo divulgado no jornal DCI, em 13 de fevereiro de 2012.

Samir Keedi é economista, especialista em transportes internacionais, professor e autor de vários livros sobre Comércio Exterior, Transporte e Logística.