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As Comunicações Universais, por Ozires Silva

Crédito: Divulgação

Aqueles que viveram a década dos 1960 não imaginavam que o resultado da então chamada Corrida Espacial, vivida intensamente pelos Estados Unidos e Rússia, poderia se estender no campo das aplicações práticas e se chegar à realmente maravilhosa rede de comunicações da atualidade ao alcance de todos. Poucos poderiam projetar que, com o domínio das técnicas para produzir foguetes de alto poder energético, satélites artificiais seriam lançados para não somente estudar o espaço sideral, mas para prestar os mais variados serviços que hoje nos permitem ter a disposição melhores modos de comunicação entre pessoas e organizações, sistemas de localização e navegação para mais variados veículos, previsões do tempo e de safras, etc A lista é ampla e cobre assuntos que jamais no passado imaginávamos que seria possível.

 

Se a disputa de primazia do espaço era vivida somente entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética, atualmente esse quadro apresenta mudanças. Naturalmente, mesmo que ainda o mercado aeroespacial seja basicamente dominado pelos mesmos países, a realidade já mostra outros, como Índia e China, entrando vigorosamente nessa disputa e tentando ocupar espaços científicos e comerciais
Dentro desse aumento de importância dos países emergentes no mercado aeroespacial, qual seria o papel do Brasil? Para ganhar vantagens competitivas o programa brasileiro de atividades espaciais, está entrando em mercados de nicho, lançando satélites comerciais em órbitas mais baixas, recebendo como resultados a vantagem de prestar melhores serviços globais. Há previsões de se lançar sete satélites por ano, todos de dimensões e peso mais modestos do que muitos outros já em órbita.

 

Para entender o avanço da participação do Brasil na área é preciso voltar às origens da Agência Espacial Brasileira (AEB), fundada em 1994, durante o governo Itamar Franco, para substituir a Comissão Brasileira de Atividades Espaciais (COBAE), criada sob o controle militar, na década de 1970. Com o fim da Guerra Fria e da bipolaridade entre Estados Unidos e União Soviética, muda o contexto mundial e surge a necessidade do País ter um órgão de instância civil para lidar com a cooperação internacional na área espacial, que até então era responsabilidade do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), entidade focada principalmente na área de pesquisas.

 

 

Atualmente, após projetos de parceria com outros países, um novo horizonte foi aberto com um projeto de cooperação com a China – iniciado em 1988, interrompido durante o governo Collor e retomado na gestão seguinte. As diretrizes oficiais do momento fixam que estão fora de cogitação interesses militares e tentativas de explorar o espaço ou mandar um bra​_sileiro à Lua. O foco, claramente, é a abertura de janelas para a prestação de serviços úteis à população e nossos associados no mundo.

 

Dessa forma, as atividades espaciais brasileiras estão orientadas para atender às necessidades do País. Apesar de não ter interesses de realizar viagens à Lua, o Brasil tem recursos para criar o seu próprio satélite e crescer dentro do quadro espacial mundial. Diferentemente do Brasil, a China segue firme em seu objetivo de mandar um homem à Lua entre 2020 e 2030. Mas, depois de tantas expedições que já muito mostraram o que se poderia saber sobre o solo lunar, qual a necessidade real de uma viagem tripulada ao satélite? Os chineses estão determinados a simplesmente mandar uma mensagem política e econômica ao mundo de que só eles e os Estados Unidos foram à Lua, e que seriam tão competentes quanto os americanos. Absolutamente, este não é nosso caso!

 

Nosso programa espacial iniciou-se na década dos 1960, com o CTA- Centro Técnico Aeroespacial e com o INPE – Instituto de Pesquisas Espaciais, ambos sediados em São José dos Campos. Na atualidade, sob jurisdição da AEB – Agência Espacial Brasileira, o programa está centrado em propósitos e objetivos realmente úteis, tentando harmonizar os recursos financeiros necessários com os objetivos de interesse nacional, com ênfase em programas civis de melhoria e bem-estar das populações brasileiras.

 

Artigo divulgado pela Revista Prefeitos & Gestões em maio de 2012