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Gestão e Governo, por Ozires Silva

Política e Economia expressam o pulso do país. Na Política, a sorte está lançada por meio dos resultados dos inquéritos policiais que devassam as lamentáveis ocorrências de fraudes trazidas à assustada opinião pública brasileira. Já na Economia, embora mostre-se mal, já esteve muito pior no passado e, de uma forma ou outra, conseguiu-se superar os conhecidos problemas crônicos como o da hiperinflação e os dos atritos das dívidas externas.

 

Em que pese a gravidade do quadro no qual vivemos, o que agora nos surpreende, como brasileiros e cidadãos, é a desastrosa política econômica do Governo Federal, cujas falhas causam surpresas até aos mais simples dos empreendedores nacionais.

 

Deve nos preocupar mais a carência de atitudes da Presidência da República, que permanentemente procura passar para os atônitos cidadãos que tudo vai bem e que iriam melhor se não fossem as ameaças que vêm do lado internacional da economia mundial!

Explicações à parte, o que sentimos na condução das atividades de milhões de empresas que produzem, são as decisões que apoiam a terapia constritiva do gasto fiscal ministrada pelas autoridades financeiras, como preliminares para a retomada do crescimento econômico. Todas elas, ortodoxas, sempre no sentido de fazer sentir no bolso de todos, os aumentos das taxas de juros, dos impostos, da depreciação cambial e o estouro da inflação; no mercado de trabalho, com a redução das ofertas de postos de trabalho, com a desaceleração do ritmo da economia. O grande receio vem da retração cada vez mais profunda, claramente mostrada pela recessão.

 

É aí que importa o papel da fraqueza das nossas lideranças que, ao sonegar a gravidade da situação, não se reconheçam como responsáveis pelos tempos de aridez, procurando escamotear a realidade, quando a colaboração coletiva é parte da solução do problema.

 

Na Economia, a comunhão dos interesses nacionais aos de empresários e investidores pode contornar cenários adversos e preservar projetos de expansão, resumidos pela palavra ‘investimento’. Esse é o sentido da confiança sobre o que vai acontecer, enfraquecido pela ausência de debate com a sociedade, apontada pelas lideranças nacionais e pelos empresários como a maior deficiência dos últimos anos.

 

“A orquestra não está totalmente afinada”, diz um Ministro, embora também falte o arranjo para que a faça começar a tocar, mesmo que baixinho. Em resumo, o momento exige competência, o que não aparece no horizonte. A solução de nossos problemas depende de líderes que, por razões várias, têm se desvanecido por fracas e independentes atuações do setor político.

 

A promessa de trazer a inflação à meta pode tornar-se irreal, em face dos cenários aos quais fomos trazidos. Mantê-la somente vias mecanismos financeiros governamentais implica ou continuar a incessante e crescente política de juros mais altos, mirrar ainda mais o dinamismo econômico, ou dificultar outra meta crítica: os superávits primários. Assim, o cenário está duro e não mostra sinais de caminharmos para o crescimento.

 

Assim, precisamos de reações, quando se observam unicamente letargias. Do lado governamental fala-se de acertar os gastos do Governo que pressionam a nação como um todo. Pergunta-se quanto à possibilidade de se substituir as desgastadas soluções do Planalto, geradas nos Escritórios de Brasília, sem consultas à Sociedade produtiva do país. Enfim, seria sonhar alto imaginando que o Brasil não é representado somente pelo Governo Federal? Que existem outros atores importantes que muito podem ajudar?

 

Artigo publicado no Jornal A Tribuna.

 

* Ozires Silva é reitor da Unimonte e presidente do Conselho de Administração da Anima Educação. Já ocupou a presidência de empresas como Petrobras e Embraer. Autor deste blog.