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A Riqueza na Produção, por Ozires Silva

Como se esperava, este início do Século XXI está sendo muito diferente do passado, com novos problemas, embora ainda em busca de novas soluções. Alguns países acharam alguns caminhos e nada indica que serão permanentes. As variáveis que teremos de enfrentar no Brasil, podem não ser as mesmas que afetaram outras regiões, mas vale a pena tentar analisar algumas delas que já são visíveis.

 

 

Exemplos, que nos vêm do exterior, mostram o sucesso mercadológico dos produtos de alto valor agregado, carregados e produzidos com componentes e equipamentos. São aqueles que chegam ao consumidor classificados como manufaturados e, entre eles, os mais sofisticados, como computadores, telefones, eletrodomésticos, veículos e assim por diante. Devemos notar que todos eles dependem de uma variedade de peças e componentes, os mais variados e que podem ter origem no país, mas, na atualidade, registram uma crescente participação como itens de importação. E esse cenário não se aplica somente ao Brasil.

 

Neste aspecto é importante levar em conta que a preferência, pela importação desses integrantes dos produtos finais, vem dos seus preços e/ou de suas características técnicas mais avançadas do que os equivalentes fabricados no Brasil. Qualquer empresário sabe que o sucesso de suas vendas dependerá basicamente de satisfazer cada vez mais e melhor o seu consumidor e que, além da tradicional relação custo/qualidade/desempenho, aquilo que seja oferecido precisará ser, no mínimo, equivalente ao melhor que estiver no mercado mundial.

 

Produtos finais, fabricados sob tais conceitos, estão carregando o êxito dos grandes grupos empresariais, com subsidiárias em diferentes locais ou países, criando e explorando marcas fortes de penetração global. E por que isso? Simplesmente, pela razão básica de que as margens de comercialização estão na atualidade se revelando maiores do que as de produção, o que determina uma atividade mercadológica muito mais dinâmica do que aquelas aplicadas até um passado recente.

 

 

 

Neste cenário, parece claro que nenhum país, vendedor de commodities ou de produtos primariamente processados (nosso caso brasileiro) poderá ter sucesso. Conheço bem o caso dos nossos aviões, produzidos pela EMBRAER e, pessoalmente, busquei chegar a esse modelo desde os tempos nos quais presidia a empresa. Lembro-me que, na década dos 1960, a França se vangloriava de fabricar o MIRAGE III, caça supersônico produzido pela MARCEL DASSAULT, como um produto “100% francês”. Isso não existe mais. Os AIRBUS’s, produzidos e finalmente montados na França hoje, estão longe do famoso “100% francês”.

 

Tudo isso, enseja que se aceite que a competição no mundo atual é entre países e não mais somente entre empresas, por maiores que sejam. Se o país não produzir um ambiente competitivo as empresas sozinhas nada conseguirão. É mais ou menos o que demonstrou a extraordinária vida de Steve Jobs, o genial criador da APPLE, do iPhone e do iPad. Se ele não estivesse no Syllicon Valley, na California, não teria conseguido o que o consagra hoje. Isto é, ele teve a visão, e possivelmente a sorte, de viver numa área que favorecia a fabricação dos seus produtos. E, agora, olhando para o nosso Brasil vemos que a produção nacional, salvo algumas exceções, não está no ambiente adequado e estimulante. O Governo está longe demais do setor produtivo. Num outro dia surpreendi-me na FIESP, vendo empresários representantes de um importante e líder grupo produtivo setorial, reunido para interpretar uma lei, recentemente editada. Perguntei se eles tinham participado da elaboração da lei. Negativo!

 

Neste quadro, podem ser demonstrados alguns dos itens que nos levam à baixa competitividade dos produtos brasileiros. Por força desse cenário negativo, embora evitável, empresas estrangeiras estariam deixando o Brasil devido aos nossos custos de produção, da alta tributação, das taxas de juros acima de quaisquer outras e das normas e regulamentos que obrigam um aumento progressivo do conteúdo nacional nos produtos fabricados.

 

Conscientes dessas variáveis e condições para o sucesso da atividade produtiva no mundo moderno e naquele que o vai suceder, mesmo as Municipalidades podem se envolver diretamente, contribuindo decisivamente para trazer riquezas para sua população, aproximando-se do seu setor produtivo e atraindo novas empresas, mais por atitudes positivas de apoio do que por incentivos fiscais direto. Ou seja, proporcionar a criação do ambiente que Steve Jobs encontrou no seu Syllicon Valley, do mesmo modo que estão orientados os governos dos países que estão avançando, ressaltando os exemplos da Coréia do Sul e da China, esta última muito diferente do que se pensa no mundo, pois desde um passado não-distante deixou para trás os conceitos do regime comunista.

 

Artigo divulgado pela Revista Prefeitos&Gestões em Fevereiro de 2012